Por que o e-commerce no Brasil está ficando atrasado? – Abcomm – Associação Brasileira de Comércio Eletrônico
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Por que o e-commerce no Brasil está ficando atrasado?

Apesar do crescimento nos últimos anos ter se mantido em níveis médios superiores a 25% ao ano, o comércio eletrônico no Brasil começa a entrar em situação preocupante.

Não vou usar esse artigo para ficar repetindo os velhos problemas do país: saúde, educação, segurança, transporte, entre todos os outros. Mas deveria? Como pagadores de impostos (e que impostos!) Precisamos sim, insistir e nos mobilizar.

Há cinco anos a ABComm vem tentando mobilizar os players do mercado e sensibilizar a classe política para questões críticas no desenvolvimento do setor. Até mesmo duas ações de inconstitucionalidade foram impetradas pela ABComm no STF.

Enquanto isso o e-commerce brasileiro que vinha sendo fonte de renda e geração de empregos, principalmente entre microempresários, agora se encontra numa situação delicada. Segundo dados da ABComm, cada loja virtual gera em média três empregos diretos e outros cinco indiretos.

A seguir elencamos os fatores que necessitam de atenção imediata no setor:

Logística: enquanto volume de pacotes transportados saltou de 11 milhões em 2006 para 180 milhões em 2016, a infraestrutura e tecnologia dos Correios recebeu quase nenhum investimento e se encontra colapsada, em níveis lamentáveis, sobrecarregada, lenta, cercada de roubos de cargas, quebra de pacotes por mal manuseio e um péssimo serviço de atendimento ao cliente.

Alguém olhando esse mercado de fora poderia dizer: se os serviços dos Correios está tão mal, é uma ótima oportunidade para entrada de empresas privadas nesse setor. Não é bem por aí. A maioria das empresas que se aventuraram no mercado de entregas expressas do e-commerce, enfrentaram o mesmo problema: altos custos operacionais, necessidade de grandes investimentos em maquinas, veículos e armazéns, tributação exorbitante, legislação trabalhista sufocante e a última milha é muito cara.

Para os dois últimos problemas há uma boa saída. A iniciativa privada deveria se espelhar no que vem dando certo lá fora e investir em soluções tais como lockers e parcel shops. Dessa forma é possível comprar pela internet e retirar o produto em um estabelecimento comercial próximo, seja uma padaria, loja de conveniência ou até mesmo estação de metrô.

Essas soluções são amplamente usadas nos Estados Unidos, Europa e Ásia e tem muitas vantagens, entre as quais: maior rapidez e menos custo de entrega, mais segurança, índices de sucesso na entrega próximos a 100%, entre outros. No Brasil, esses modelos logísticos diminuiriam muito a dependência que as lojas virtuais têm dos Correios.

Jurídica: a lamentável atuação dos Correios leva a dois outros problemas: baixos índices de satisfação do consumidor e avalanches de processos judiciais por danos morais. Esses processos têm acontecido em todo Brasil, mas com mais frequência nos Estados do Rio de Janeiro, Paraná e Acre. Ocorre que as pessoas sentem que sua moral foi prejudicada por terem recebido a compra com atraso. Então processam a loja virtual. Por outro lado, há juízes que consideram isso procedente e fazem as lojas virtuais indenizarem esses consumidores.

Tributação: em um cenário de crise, quando alguém é demitido, tem a oportunidade de abrir seu próprio negócio na Internet com pouquíssimo investimento. Assim tem surgido casos interessantes em e-commerce de nicho. Ao invés de incentivar o crescimento do setor e prepara-lo para absorver parte da mão de obra desligada da indústria, os governos estaduais viram no e-commerce a possibilidade de arrecadarem mais sem fazer nada. A mudança recente nas regras do ICMS continua fechando empresas no setor e tornando-as menos competitivas. Até as empresas do Simples Nacional foram pegas nessa manobra maligna.

Segurança: andar pelas cidades brasileiras é cada vez mais perigoso. O e-commerce também sofre com a falta de segurança nas cidades e rodovias. A quantidade de cargas roubadas aumenta diariamente. Em muitas regiões não é mais possível sequer passar com o caminhãozinho de entregas sem ser parado em falsa blitz. Até a escolta tem medo. Os Correios deveriam divulgar uma lista de CEPs de regiões onde eles não fazem entregas na porta. Ao invés disso, simplesmente não entregam a encomenda para o consumidor, deixam-na numa agência próxima e não avisam nem a loja virtual, nem o consumidor. Adivinha quem o cliente vai processar?

Educação: atualmente há um paradoxo no Brasil. Enquanto milhões de brasileiros estão sem emprego, as empresas têm dificuldade em encontrar especialistas em e-commerce. Ainda falta gente qualificada. Tem muita gente que sabe criar fanpage no Facebook e cadastrar campanha no Google Adwords, mas faltam programadores, especialistas em logística, planejadores digitais e de operações multicanal.

Inovação: não me lembro de ter visto uma inovação digital que saiu do Brasil. Teve a Boo-Box, que foi um orgulho quando apareceu na Forbes, mas em tempos onde o domínio da tecnologia é quem dita as regras da economia, estamos muito atrasados nesse quesito.

Até o Presidente Obama foi em rede nacional para convocar os cidadãos americanos a aprenderem a programar. O futuro econômico das nações depende muito em transformar forca de trabalho em riqueza. Ao observarmos que oito das dez maiores empresas do mundo, estão na área de tecnologia, o que você se pergunta? Seremos o país do futuro exportando commodities?

O futuro está passando: tantos problemas vem causando desgaste na competitividade das lojas virtuais brasileiras. O empresário que deveria estar focado em gerar renda e empregos acaba passando boa parte do seu tempo (su)focado por tributos e desserviços estatais, baixa produtividade trabalhista e fraudes. Há forte tendência mundial na chamada internacionalização via e-commerce. Isso consiste em incentivar as lojas virtuais a venderem para outros mercados, em outras línguas e moedas. É um formato de exportação fragmentada que tem gerado receitas bilionárias para alguns países, principalmente China e Estados Unidos. O maior marketplace B2B do mundo, Alibaba, já tem valor de mercado maior que o Facebook.

Na Europa esse assunto tem sido amplamente debatido para que seja ao mesmo tempo incentivado e simplificado em termos de tributação.

Por aqui quando falamos em internacionalizar pelo e-commerce, a pergunta que vem é: o que nossas lojas virtuais vão vender no exterior?

Sobre o autor: Mauricio Salvador é presidente da ABComm

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